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Eu me neguei a soprar o bafômetro. Por Luís Nassif.

Eu me neguei a soprar o bafômetro;

“Quase meia noite, uma blitz da Policia Militar me manda parar o carro. Saio e sou abordado por um sargento que quer que eu faça o teste do bafômetro. Recusei, apesar de não ter bebido. A intenção foi saber o que acontece com os que se negam a soprar. O problema surgiu quando se constatou que nenhuma pessoa estaria obrigada a soprar o bafômetro. Para corrigir a lacuna, foi promulgada a chamada Lei Seca, com alguns absurdos (como o mínimo de 0,3 de álcool no sangue). O motorista que recusar a soprar o bafômetro terá que assinar um termo. Se apresentar sinais visíveis de embriaguez – e apenas nessa situação – será autuado e submetido a uma perícia médica.

“Quando disse da minha recusa em soprar o bafômetro, o sargento da PM nem quis conversa. “ Se não soprar, o senhor será autuado”. Disse-lhe que não sopraria. Aí criou-se o impasse.

“Na blitz, não havia nenhuma pessoa para preencher o termo de recusa. E nenhum perito médico para atestar se eu estava ou não embriagado.

“O correto seria o sargento me liberar. Mas aí sua autoridade seria arranhada. Resolveu, então, me levar até a delegacia, enquanto um funcionário da PM conduzia o carro. Chegamos na delegacia, abarrotada por problemas mais efetivos. Atrás do balcão, o delegado indagou do sargento se eu apresentava sinais de embriaguez.

“Se admitisse que eu não apresentava os tais sinais, não haveria como o sargento justificar minha detenção. Na cara de pau, então, a autoridade afirmou que sim, eu apresentava sinais de embriaguez. Reagi na hora. Perguntei ao delegado se via algum sinal de embriaguez em mim.

“Nervoso, o sargento quase ordenou que não o interrompesse. Insistiu que eu tinha os sinais, nos olhos vermelhos, no hálito e… na arrogância.

“Conversa vai, conversa vem, o delegado informou que, já que bastava a palavra do PM para me autuar por embriaguez, eu deveria ir até o IML para fazer a perícia técnica. Na delegacia, perdi hora e meia; no IML, perderia mais duas horas.

“A esta altura, o PM percebeu que tinha criado uma confusão do nada. Aproximou-se, mais cordato, e, no final da conversa, abriu o jogo: “Faz assim: sopre o bafômetro que nós te liberamos”. Era quase um apelo.

“Como já tinha material de análise sobre a aplicação prática da Lei, soprei, deu zero, e fui liberado. Se a mera palavra do sargento é suficiente para me segurar por quatro horas em delegacia e IML, não há a opção de não soprar o bafômetro. A opção é, sopra ou passe quatro horas detido. Parte do problema se resolve com a PM aprimorando seus procedimentos e não permitindo mais blitz sem a presença do escrivão e do perito médico. Mas deveria haver formas mais efetivas de contenção de espirros autoritários de autoridades.

 

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